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Crise política se agrava e ex-aliada denuncia prefeito: ‘queria que eu fosse o pitbull dele’

Notícias do Tocantins  A sessão da Câmara Municipal de Colinas do Tocantins, nesta segunda-feira (25), foi marcada por embates intensos entre a base reduzida do prefeito Josemar Carlos Casarin, conhecido como Kasarin (União), e a nova bancada de oposição, agora majoritária. O clima ficou ainda mais acirrado após a leitura da ata de formalização da bancada de oposição e a denúncia da vereadora Professora Elma (União), ex-aliada do gestor, de ameaças e perseguição.

Elma era considerada uma aliada leal do prefeito, tendo sido escolhida como candidata a vice-prefeita na chapa de Kasarin durante seu primeiro mandato. No entanto, a candidatura foi indeferida pela Justiça Eleitoral. No pleito seguinte, ela se candidatou a vereadora e foi eleita.

OPOSIÇÃO OFICIALIZADA

A sessão começou com o anúncio da formalização da bancada de oposição, liderada pela vereadora Naiara Miranda (MDB), que consolidou o afastamento de seis dos nove vereadores que até então integravam a base do prefeito.

Segundo Naiara, a união não é contra o gestor, mas em defesa da cidade. “Agora existe uma bancada vigilante, preparada para cobrar, fiscalizar e também propor. Nosso compromisso é com a sociedade, não com o prefeito”, afirmou.

ELMA JUSTIFICA ROMPIMENTO

Logo no início da sessão, a vereadora Professora Elma usou a tribuna para justificar o rompimento com Kasarin e relatou casos de perseguição política. “O gestor sempre me pedia para utilizar a tribuna em tom ofensivo contra determinados parlamentares. Ele queria que eu fosse o ‘pitbull dele’. Mas eu não sou base de prefeito, sou base do povo de Colinas”, declarou.

A vereadora também denunciou pressões sobre servidores e até tentativas de mobilizar manifestações contra ela. “Houve tentativa de induzir uma servidora a protestar na porta da minha casa em troca de manter o cargo. Isso não é gestão, é perseguição política”, afirmou.

O ESTOPIM

O clima esquentou após o vereador Jefferson Bandeira (Republicanos) reagir às críticas, acusando a oposição de “fazer palanque político” e defendendo que a base resolve problemas de forma direta com o gestor, sem “espetáculo”.

Jefferson afirmou ainda: “Vereadora Elma nos acompanhou durante quatro anos. Sei do trabalho sério que ela fez. Mas eu tenho que discordar de vossa excelência, vereadora, quando você acusa o prefeito de inúmeras coisas. E naquele momento, desde 2021 pra cá, o prefeito Ksarin não era essa pessoa que a senhora acabou de pintar aqui, ou era um apoio por conveniência, e ele só se tornou essa pessoa ‘intragável’, como foi veiculado nas redes sociais agora. A partir do momento que ele retirou a pessoa que vossa senhora tinha indicado por decisão unicamente dele, ele se tornou uma pessoa ruim.”

A fala inflamou a sessão e levou à réplica de Elma, que negou “conveniência política” e classificou seu rompimento como ético e institucional. “Ele justificou a demissão da secretária de Desenvolvimento Social dizendo que eu não o defendia na tribuna. Isso é retaliação”, afirmou. A vereadora acrescentou ter recebido mensagens com xingamentos e ameaças. “Não sou ‘cachorro de ataque’ de ninguém”, completou.

SOLIDARIEDADE A VEREADORA X APOIO AO GESTOR

A vereadora Naiara Miranda saiu em defesa de Elma, relembrando quando também foi alvo de violência política de gênero. “Hoje, a dor da vereadora mostra que não era exagero, mas um método de intimidação política deste governo”, disse.

Já Gildeon Morais (Republicanos) sustentou apoio ao prefeito com base em sua popularidade. “Enquanto o povo estiver com ele, eu também estarei”, afirmou. A vereadora Dayhany Mota (União), por sua vez, defendeu o diálogo e a construção coletiva.

PRESIDÊNCIA COBRA RESPEITO

O presidente da Câmara, Augusto Agra (União), encerrou a sessão em tom firme, criticando o prefeito por tentar desrespeitar a independência do Legislativo.

“Estou no meu terceiro mandato e nunca vi um prefeito se comportar dessa forma. Ele acha que pode mandar na Câmara, mas aqui não é extensão do gabinete dele. Somos o segundo poder, legítimos representantes do povo, e temos que ser respeitados”, declarou.

Agra reforçou que a oposição não é contra a cidade, mas contra práticas autoritárias. “A Câmara não é inimiga de Colinas, é guardiã da democracia. Não vamos nos curvar a pressões”, concluiu.

Agras criticouo prefeito por tentar desrespeitar a independência do Legislativo.

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ENTENDA A CRISE

A perda de sustentação política do prefeito não é repentina. O primeiro grande abalo ocorreu em fevereiro, na abertura do ano legislativo, quando Kasarin atacou publicamente a vereadora Naiara Miranda, que havia se declarado independente.

Em tom de ameaça, disse: “Se ela pedir aparte e citar meu nome, eu vou responder. Tu te prepara porque aqui a bala pega”. O episódio chocou vereadores e abriu uma ferida política que jamais cicatrizou.

Naquele momento, o prefeito ainda contava com nove vereadores na base. Menos de seis meses depois, 10 dos 13 parlamentares se declaram oposição, incluindo nomes centrais como Naiara, Elma e Ranniere Macaúba (PP).

ESCÂNDALOS E DENÚNCIAS

O desgaste aumentou após a revelação de um pagamento de R$ 144 mil ao prefeito, registrado como “rescisão contratual” no fim de 2024. A denúncia, divulgada pelo portal AF Notícias, levou a bancada de oposição a cobrar explicações sobre contracheques do Executivo entre 2021 e 2024.

Sob pressão, Kasarin promoveu mudanças no secretariado, incluindo a saída do secretário de Finanças, Edison Costa Neto, responsabilizado pelo pagamento polêmico, e da secretária de Desenvolvimento Social.

Nos bastidores, as mudanças foram vistas como perseguição política: Edison teria sido usado como bode expiatório pela perda de subsídios, enquanto a exoneração da secretária social seria uma tentativa de atingir politicamente a vereadora Elma.

CONFLITO POLÍTICO SE ACIRRA

A sessão expôs de forma cristalina a divisão em Colinas: de um lado, uma oposição fortalecida e unida; de outro, uma base enfraquecida que se ancora no prestígio popular do prefeito.

O embate promete marcar as próximas sessões e transformar a Câmara no palco central da disputa pelo futuro político da cidade.

Fonte: AF Noticias