Cassações, afastamentos e prisões de governadores: 20 anos de crise política no Tocantins
Notícias do Tocantins – O afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), nesta quarta-feira (3), determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), escancara uma ferida antiga na política do Tocantins: a incapacidade do Estado mais jovem do Brasil de manter estabilidade no comando do Palácio Araguaia. Em 2026, o Tocantins completará 20 anos sem que um governador eleito consiga concluir o mandato de quatro anos.
Nos últimos 16 anos, a cena se repetiu em diferentes atos: cinco governadores cassados, afastados ou renunciando ao cargo, e sete nomes diferentes sentando-se na cadeira de chefe do Executivo, numa média de pouco mais de dois anos por gestão. O histórico mostra um ciclo de rupturas que mina a credibilidade institucional e reforça a imagem de um Estado politicamente instável.
A linha do tempo da instabilidade
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2009: Marcelo Miranda é cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Assume Carlos Gaguim.
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2014: Siqueira Campos renuncia ao mandato alegando motivos pessoais, junto com o vice João Oliveira. Assume Sandoval Cardoso, então presidente da Aleto.
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2018: Marcelo Miranda é novamente cassado pelo TSE. Assume Mauro Carlesse, então presidente da Aleto.
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2021: Mauro Carlesse é afastado pelo STJ. Vice Wanderlei Barbosa assume como governador.
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2025: Wanderlei Barbosa é afastado, também por decisão do STJ, no âmbito da Operação Fames-19, e vice Laurez Moreira assume.
Com isso, em apenas 16 anos, o Estado teve sete governadores diferentes: Marcelo Miranda, Carlos Gaguim, Siqueira Campos, Sandoval Cardoso, Mauro Carlesse, Wanderlei Barbosa e agora Laurez Moreira, que assume interinamente.
Escândalos e prisões
Além das cassações e afastamentos, três ex-governadores chegaram a ser presos: Sandoval Cardoso em 2016, Marcelo Miranda em 2019 e Mauro Carlesse em 2024. Todos respondem aos processos em liberdade, mas o peso das acusações reforça a percepção de um Estado mergulhado em crises de governabilidade e denúncias de corrupção.
Laurez assume em meio à turbulência
Com o afastamento de Wanderlei, o vice-governador Laurez Moreira (PSD) foi empossado nesta quarta-feira (3/9) pelo ministro Mauro Campbell, do STJ, em audiência na Justiça Federal, em Palmas. Em sua primeira fala como governador em exercício, Laurez afirmou que o Tocantins vive um momento “triste” e reforçou a necessidade de “cautela e responsabilidade”.
“Sou tocantinense nato, conheço nosso Estado e sei do potencial que temos para ser referência nacional. Infelizmente, quando se fala do Tocantins, o primeiro pensamento que vem são os fatos negativos. Tenho consciência da responsabilidade deste momento que estamos vivendo”, disse.
Laurez prometeu fazer um levantamento geral da situação da máquina pública, conversar com secretários e avaliar se haverá mudanças na equipe. Também destacou que pretende concluir as obras em andamento e dar sequência aos projetos já iniciados.
Um ciclo que se repete
A posse de Laurez Moreira é simbólica: assim como ocorreu em 2021, o ministro Mauro Campbell veio pessoalmente a Palmas para dar posse ao vice, após determinar o afastamento de um governador. Em 2021, ele afastou Mauro Carlesse e empossou Wanderlei Barbosa. Agora, é Wanderlei quem cai sob a caneta do mesmo ministro.
A cada ciclo de ruptura, o Tocantins afasta-se da normalidade política e mergulha ainda mais no descrédito institucional. Em 20 anos, nenhum governador conseguiu atravessar a linha de chegada de um mandato completo.
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Fonte: AF Noticias