Opinião | A Mega da Virada tocantinense: vencer eleição é um bilhete premiado
Keslon Borges | Artigo de opinião
Se em todo réveillon milhões de brasileiros sonham com a Mega da Virada, aqui no Tocantins alguns poucos felizardos não precisam sequer apostar. Basta vencer uma eleição. Assumir uma prefeitura ou o governo do Estado é como acertar as seis dezenas: um verdadeiro prêmio acumulado.
E não pense que os parlamentares ficam de fora. Vereadores, deputados estaduais, federais e senadores têm acesso a uma espécie de “raspadinha premiada” ao longo do mandato. Cada emenda, cada comissão, cada conchavo político é um bilhete sorteado. E, claro, quase sempre premiado.
As exceções? Existem, mas são tão raras que poucos conseguem lembrar de alguém que não tenha transformado a política tocantinense em uma grande lambança. Porque aqui não se governa, não se legisla. Aqui se caça. São caçadores de renda profissionais.
E a culpa? Talvez seja nossa. Afinal, fingimos não ver o óbvio. Assistimos a compra de votos, o surgimento repentino de empresas em nome de terceiros, a multiplicação de carros de luxo nas garagens e o aparecimento de mansões incompatíveis com qualquer contracheque público. E ainda assim, aplaudimos nos comícios.
Político no Tocantins parece ter descoberto uma árvore exótica: planta-se na eleição, colhe-se dinheiro vivo no mandato. Uma árvore que floresce com cargos de confiança, secretarias inchadas de amigos e gabinetes lotados de parentes — sempre sob a justificativa da “competência”. E se não for nepotismo direto, é o cruzado, aquele jeitinho inventado para driblar a lei.
Por isso, desconfiem. De quem emprega a família inteira no serviço público, de quem incha gabinetes com amigos, de quem fica milionário sem nunca ter produzido nada além de discurso. Mais importante ainda: olhem o antes, o durante e o depois de cada mandato. A mágica está justamente nessa transformação súbita de quem entrou de chinelo e saiu de terno Armani.
O Tocantins virou uma loteria exclusiva, com poucos ganhadores e milhões de apostadores forçados a contribuir com os bilhetes — no caso, os impostos. Resta a nós aguardar, ironicamente, a próxima temporada dessa série. Porque, aqui, cada eleição é mais emocionante que o sorteio da Mega da Virada.
Keslon Borges | Economista e Especialista em Gestão Pública.
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Fonte: AF Noticias