Grupo petista teme virada bolsonarista em Dianópolis com eventual renúncia de Salomão
A possível renúncia do prefeito José Salomão (PT) para disputar uma vaga de deputado federal nas eleições de 2026 tem causado apreensão dentro do grupo petista de Dianópolis, cidade considerada estratégica para o partido no Tocantins. A preocupação é que, com a saída de Salomão, o comando da prefeitura passe às mãos do vice-prefeito Hormides (União) — político de base bolsonarista e aliado de lideranças como a senadora Professora Dorinha (União) e o governador goiano Ronaldo Caiado (UB).
A renúncia representaria uma mudança política radical na administração da 6ª maior cidade do Tocantins, atualmente a maior prefeitura petista do estado, onde o partido governa apenas três municípios. Por isso, a eventual ascensão de Hormides ao cargo de prefeito é vista com grande preocupação por integrantes do PT.
Um governo dividido
Nos bastidores, relatos de servidores e lideranças locais indicam que Hormides já atua como “prefeito de fato”. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, nenhuma decisão importante passa sem o aval dele, que teria influência direta sobre licitações, obras públicas e a gestão da saúde municipal.
Moradores afirmam, inclusive, que “Dianópolis tem dois prefeitos”, expressão que traduz a divisão interna no comando do Executivo. “É o Hormides quem circula com a lista de servidores, querendo saber onde cada contratado está”, disse uma fonte ligada à base petista da cidade.
Alinhamento à direita preocupa o PT
O vice-prefeito é identificado com o grupo bolsonarista no estado. Ele tem proximidade com fazendeiros e empresários da região sudeste, tradicionalmente críticos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT.
Integrantes do partido afirmam que Hormides também mantém diálogo direto com parlamentares e lideranças bolsonaristas, articulando politicamente sem envolver a base petista local. Esse movimento, segundo interlocutores, isola o grupo histórico do PT e enfraquece o projeto partidário na cidade.
Salomão entre a lealdade partidária e o projeto pessoal
O prefeito José Salomão, figura tradicional da esquerda tocantinense e com trajetória consolidada na política local, enfrenta um dilema político e ideológico. Embora incomodado com a situação, ele acredita que poderá contar com o apoio da base bolsonarista de Hormides para impulsionar uma eventual candidatura a deputado federal em 2026.
A estratégia, porém, é vista com resistência entre aliados históricos. “O PT não faz aliança com bolsonaristas para entregar o poder a eles. É uma contradição que ameaça todo o capital político construído em Dianópolis”, comentou um militante do partido sob reserva.
Repercussão e inquietação partidária
Internamente, dirigentes petistas avaliam que a saída de Salomão pode abrir espaço para uma ruptura irreversível. Caso o prefeito renuncie, a cidade passará ao controle de um grupo contrário ao governo federal e ao próprio presidente Lula.
A situação gera desconforto não apenas na esfera municipal, mas também entre lideranças do PT estadual, que veem Dianópolis como símbolo da resistência petista no Tocantins.
“Entregar a maior prefeitura do PT no Estado para um vice bolsonarista é um erro político grave, que pode custar caro ao partido em 2026”, avaliou uma fonte da legenda.
Cidade estratégica e futuro incerto
Com cerca de 22 mil habitantes, Dianópolis é considerada uma cidade-polo do sudeste tocantinense, com peso eleitoral e simbólico. O município é uma das poucas prefeituras comandadas pela esquerda em um estado onde a maioria dos gestores é alinhada ao campo conservador.
Caso a renúncia se confirme, o cenário político local tende a mudar radicalmente, oficializando o que já se desenha nos bastidores: a existência de um governo dividido, onde o poder de fato já transita entre duas forças antagônicas.
Enquanto o PT tenta equilibrar lealdade partidária e pragmatismo eleitoral, cresce o temor de que o partido perca seu principal reduto político no Tocantins — não nas urnas, mas por uma decisão estratégica do próprio prefeito.
Fonte: AF Noticias
