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Congresso em cena: joguinhos, likes nas redes sociais e uma tragédia social em curso

O Congresso Nacional virou palco de espetáculo. Cada depoimento é um close, cada sessão uma chance de lacrar. A política brasileira se transformou em uma passarela de influencers e parlamentares disputando o protagonismo não pela ética pública, mas pelo alcance nas redes sociais. Como diz o ditado popular reinventado: “cada mergulho, um flash” ou “cada CPI, um Reels”.

A CPI das Bets é o retrato perfeito desse cenário: uma comissão criada para investigar crimes, mas que virou palco para a selfie de influenciadores como Virgínia Fonseca e Rico Melquíades, que, ao invés de constrangidos, portaram-se como se estivessem em campanhas publicitárias de suas próprias marcas. E o mais grave: fizeram isso sob o manto da legalidade.

Se o jogo é permitido, por que não posso divulgar?”, questionaram. Uma pergunta que parece inocente, mas esconde uma perversidade brutal.

A legalização dos jogos, defendida “com unhas e dentes” pelo senador tocantinense Irajá Abreu, é apresentada como uma modernização econômica. Mas o que se vende como “diversão online” esconde uma roleta russa social: famílias endividadas, jovens viciados, crimes financeiros e até suicídios.

Enquanto isso, o mesmo Congresso que cogita proibir propaganda de apostas para influenciadores parece não enxergar problema nas campanhas publicitárias milionárias de bebidas alcoólicas e das próprias Bets. O Brasil, afinal, já se acostumou com comerciais de cerveja em pleno horário nobre, em redes abertas.

Mas esse “normal” tem um custo:

Indicador Dado Fonte
Vício em apostas 2% da população brasileira (4 milhões de pessoas) Observatório do Jogo Patológico
Risco de suicídio entre jogadores compulsivos Até 15 vezes maior que o da população geral The Lancet Psychiatry, 2021
Custo do álcool para o SUS R$ 1,5 bilhão por ano Ministério da Saúde
Violência doméstica com álcool 55% dos casos têm álcool envolvido IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Suicídios ligados ao álcool Mais de 20% dos casos Organização Mundial da Saúde (OMS)
Apoio à legalização dos jogos 60% dos brasileiros são favoráveis DataSenado, março de 2025

Diante disso, fica a pergunta: por que o jogo online é tratado como ameaça moral, enquanto a bebida é aceita como tradição nacional? Certamente, porque o debate é menos sobre saúde pública e mais sobre quem lucra com o vício alheio, seja na publicidade, nas plataformas ou nas campanhas eleitorais.

A roleta gira. Mas aqui, não há vencedores, só vítimas.

Cada aposta feita por desespero, cada CPF vinculado a um cartão de crédito estourado, cada adolescente que entra escondido em plataformas de apostas com a falsa promessa de lucro fácil, é mais um passo no abismo. E quando a queda acontece, o Congresso aplaude de pé, com o celular na mão, esperando o próximo vídeo viral.

Enquanto isso, as famílias brasileiras afundam em dívidas, desespero e tragédias silenciosas. E os representantes do povo? Brigam por likes.

Fonte: AF Noticias