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Corte Especial do STJ confirma afastamentos e fala em ‘ampla organização sistemática’

Notícias do Tocantins – Por unanimidade, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou, na tarde desta quarta-feira (3), o afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e da primeira-dama, Karine Sotero, de seus cargos por 180 dias. A decisão foi tomada após o relator do caso, ministro Mauro Campbell, apresentar voto detalhado sobre a suposta participação do chefe do Executivo em um esquema de desvio de recursos destinados à compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19.

Segundo o ministro, as provas reunidas pela Polícia Federal apontam que Wanderlei, com apoio da esposa, servidores e empresários, teria estruturado uma “ampla organização sistemática” voltada ao desvio de verbas públicas. Entre 2020 e 2021, o governo estadual destinou mais de R$ 97 milhões à compra emergencial de cestas básicas e frangos congelados, mas as investigações estimam que mais de R$ 73 milhões foram desviados. Parte dos valores teria sido lavada por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e financiamento de despesas pessoais do governador.

O relator destacou que diálogos e documentos apreendidos indicam que o esquema não se restringiu ao período em que Wanderlei era vice de Mauro Carlesse (Agir), mas teria se aprofundado após ele assumir o governo em 2022.

O ministro também mencionou movimentações financeiras vultosas, incluindo mais de R$ 38 milhões repassados a empresas ligadas ao grupo. Assessores próximos, como o chefe de gabinete Marcos Martins Camilo e a secretária executiva Laiane de Souza Silva, teriam movimentado valores em espécie e realizado pagamentos pessoais do governador. Parte do dinheiro teria sido usada em um empreendimento da família Barbosa, a pousada Pedra Canga, em Taquaruçu, com investimentos superiores a R$ 6 milhões.

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OPERAÇÃO EM LARGA ESCALA

A decisão da Corte Especial do STJ ocorreu no mesmo dia em que a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Fames-19, cumprindo 51 mandados de busca e apreensão em Palmas, Araguaína, Distrito Federal, Paraíba e Maranhão.

Entre os alvos estão o Palácio Araguaia, a Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) e endereços ligados ao prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), que confirmou ter destinado emendas parlamentares ao programa de cestas básicas quando era deputado estadual.

Na Aleto, os gabinetes de dez parlamentares reeleitos foram alvos da operação, incluindo o presidente da Casa, Amélio Cayres (Republicanos), além de Claudia Lelis (PV), Olyntho Neto (PSDB), Nilton Franco (Republicanos), Valdemar Júnior (Republicanos), Jorge Frederico (Republicanos), Leo Barbosa (Republicanos), Ivory de Lira (PCdoB), Vilmar de Oliveira (Solidariedade) e Cleiton Cardoso (Republicanos).

Também estão sob investigação ex-deputados que destinaram emendas, como Fabion Gomes (PL), Issam Saado (Republicanos), Elenil da Penha (MDB), Luana Ribeiro (PSDB) e Amália Santana (PT).

GOVERNADOR SE DEFENDE

A defesa de Wanderlei Barbosa classificou o afastamento como “precipitado” e reforçou que, à época dos pagamentos, ele ainda era vice-governador, sem poder de ordenador de despesas. O governador afastado também afirma ter determinado auditorias internas sobre os contratos da Secretaria de Trabalho e Ação Social (Setas), repassando os resultados à Procuradoria-Geral do Estado e à Controladoria-Geral.

Com o afastamento, o vice-governador Laurez Moreira (PDT) assumiu interinamente o comando do Executivo estadual. Ele despachou do Palácio Araguaia ao lado de parlamentares aliados e pediu “cautela” no enfrentamento da crise.

Fonte: AF Noticias