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Eleições 2026: da frigideira para o fogo, e uma pequisa que teve o brilho ofuscado

Illya Nathasje* | Artigo de Opinião

A mais recente pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas trouxe um dado relevante: Maria Auxiliadora Sebra Resende, a senadora Dorinha (União Brasil) lidera em todos os cenários testados para a disputa ao Palácio Araguaia em 2026. O resultado, naturalmente, poderia ter sido explorado como um trunfo político. No entanto, a pré-candidata, num ato de instabilidade, deixou escapar a oportunidade de capitalizar o momento.

Em vez de dar visibilidade aos bons números, Dorinha preferiu reclamar do vazamento de um áudio em que criticava o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Ter sido humilhada é a queixa sobrecarregada pelo desprezo a quem teria apoiado o governador em momentos de instabilidade politica. Na verdade, o pano de fundo é o abraço a outra candidatura. A do deputado e presidente da Assembleia Legislativa, Amélio Cayres (Republicanos).

Ao lamentar não ter sido convidada pelo deputado Vicentinho (Alves de Oliveira) Júnior (PP-TO), para o lançamento de sua pré-candidatura ao Senado durante o festejo ao qual estava presente, a senadora só não se queixou do Senhor do Bonfim e de seu aliado e candidato à reeleição, o senador Eduardo Gomes (PL). Sua ausência no evento, no entanto, pode ter sido estratégica já que sua presença poderia ser interpretada como apoio, desagradando outros pré-candidatos, como o deputado Carlos Gaguim (União Brasil) que também pleiteia o Senado.

Ao insistir nas queixas contra aliados, adversários e até contra a imprensa, a senadora que chegou ao ponto de afirmar “não ter paixão” por Vicentinho ou Gaguim, acabou ofuscando a repercussão positiva da pesquisa.

É preciso lembrar que Dorinha construiu uma trajetória política consistente. Foi secretária de Educação entre 1998 e 2009, elegeu-se deputada federal em 2010, reeleita em 2014 e 2018. Seu maior feito foi em 2022, quando derrotou a então poderosa Kátia Abreu, conquistando a única vaga ao Senado pelo Tocantins naquela eleição.

Porém, política, já dizia Magalhães Pinto, “é como nuvem: você olha, ela está de um jeito; olha de novo, já mudou”. A frase nunca pareceu tão adequada. Em um cenário ainda indefinido, a senadora Dorinha está, segundo a pesquisa, em posição de liderança, entretanto para consolidar essa posição precisa não desviar o foco para disputas paralelas. Precisa olhar para a nuvem – senão o vento leva, e ter cuidado para não deixar a chama da liderança se transformar em fogueira da vaidade como parece evidenciado por seus “queixumes”. Afinal, a senadora Dorinha reclama de quê? Ela não quer ter adversários? Quer os adversários batendo palmas?

Eleições são um jogo bruto. Só currículo não conquista vagas. É preciso ter jogo de cintura. Quem está na frente precisa olhar pelo retrovisor para se posicionar e não, para se queixar. Adversários fazem parte do processo — jogam duro, buscam espaço, testam limites. É da natureza da política.

Ao reclamar mais do que celebrar, Dorinha vai desperdiçando a chance de se afirmar como favorita. Pior: acabou dando palco e visibilidade justamente àqueles que tenta superá-la. No jogo eleitoral, um movimento mal calculado pode significar a diferença entre permanecer na frigideira ou cair direto no fogo.

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Illya Nathasje é publicitário e Diretor Comercial do Jornal O Progresso. 

Fonte: AF Noticias