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Estudo liderado por brasileiro pode confirmar um novo planeta no Sistema Solar

Em junho de 2025, a revista Icarus publicou um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em parceria com cientistas dos Estados Unidos e da França, que investiga a possível influência do hipotético Planeta 9 na formação e nas órbitas de cometas do Sistema Solar. A pesquisa, destacada pelo Jornal da Unesp, utilizou simulações para modelar um Sistema Solar com nove planetas, oferecendo novas pistas sobre esse misterioso corpo celeste que intriga astrônomos há quase dois séculos.

O enigma do Planeta 9

A ideia de um nono planeta surgiu em 1846, após a descoberta de Netuno, e ganhou força com a identificação de Plutão em 1930 — embora este tenha sido reclassificado como planeta anão. Hoje, o Planeta 9 é um dos maiores mistérios da astronomia. Apesar de nunca ter sido observado diretamente, evidências indiretas, como o comportamento de objetos distantes, sugerem sua existência além do Cinturão de Kuiper, em uma órbita 600 vezes mais distante do Sol que a Terra.

O estudo da Unesp simulou bilhões de anos de evolução do Sistema Solar com a presença desse planeta hipotético. Os resultados indicam que ele poderia afetar a formação de cometas em duas regiões-chave: o Cinturão de Kuiper expandido e a Nuvem de Oort, áreas conhecidas como reservatórios de cometas.

Evidências a partir de objetos transnetunianos

Entre 2003 e 2014, astrônomos descobriram seis objetos transnetunianos — corpos localizados além de Netuno — com órbitas alinhadas de forma peculiar, como se influenciadas por uma força gravitacional externa. Essa anomalia, identificada em 2016, descartou Netuno como causa devido à sua distância e deu origem à hipótese do Planeta 9. “Esses objetos apontam para a necessidade de encontrar mais corpos semelhantes para refinar a órbita e a localização do planeta”, explica Rafael Ribeiro de Sousa, líder do estudo e pesquisador da Unesp.

A dificuldade está na observação: esses objetos dependem da luz solar refletida para serem detectados, mas a distância do Sol reduz sua visibilidade. O Planeta 9, com uma órbita estimada em 10 mil anos, também desafia os telescópios atuais, exigindo uma busca quase “às cegas”.

A influência nos cometas

O foco da pesquisa foi analisar como o Planeta 9 poderia alterar as órbitas de cometas originados no Cinturão de Kuiper. “Se ele afeta os objetos transnetunianos gravitacionalmente, também deveria impactar os cometas dessa região”, destaca Sousa. As simulações mostraram uma correlação impressionante: com o Planeta 9, o número de cometas com mais de 10 km de diâmetro chega a 3,6, próximo dos quatro observados na realidade. Sem ele, o número não passa de um.

Essa coincidência reforça a hipótese e ajusta as estimativas sobre o tamanho do planeta. Estudos anteriores sugeriam um astro com 15 massas terrestres, mas a pesquisa da Unesp indica que ele teria cerca de 7,5 massas terrestres — aproximadamente metade do tamanho de Urano.

Por que o Planeta 9 ainda é invisível?

A distância extrema e a órbita longa tornam o Planeta 9 um alvo elusivo. Situado além do Cinturão de Kuiper, em uma região fria e escura, ele reflete pouca luz solar. Além disso, sua lenta movimentação exige décadas de observação para detectar mudanças significativas. “Precisamos de mais objetos transnetunianos para delimitar onde ele está”, diz Sousa.

Próximos passos da pesquisa

O estudo abre caminho para novas investigações, como a análise da influência do Planeta 9 sobre cometas de longo período da Nuvem de Oort. A descoberta de mais corpos transnetunianos também pode fornecer dados adicionais sobre sua órbita e localização. Enquanto telescópios avançados não o capturam, as simulações seguem sendo a principal ferramenta para desvendar esse enigma cósmico.

Mesmo com os avanços na exploração de exoplanetas, o Sistema Solar continua repleto de segredos. O trabalho da Unesp na Icarus não só fortalece a teoria do Planeta 9 como destaca o papel dos cometas como pistas para entender nossa vizinhança celeste. O nono planeta pode estar lá fora, esperando para ser encontrado — e, quando isso acontecer, mudará para sempre nossa visão do cosmos.

Fonte: AF Noticias