Ex-padre condenado por estupro e cárcere privado foi candidato a vereador no Tocantins
Notícias de Palmas – O ex-padre Marcos Aurélio Costa da Silva, de 48 anos, condenado a oito anos de prisão pelos crimes de estupro e cárcere privado com finalidade libidinosa, foi candidato a vereador pelo PDT em Peixe, no sul do Tocantins, nas eleições municipais de 2024. O município tem cerca de 9,4 mil habitantes. Ele obteve apenas 75 votos e não foi eleito.
A condenação foi proferida pelo Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO), em decisão relatada pela desembargadora Ângela Haonat, que reformou a sentença de primeira instância. O colegiado reconheceu que o réu “valeu-se da posição eclesiástica para dominar e violentar a vítima”. A pena deverá ser cumprida em regime inicial semiaberto, e o ex-padre ainda poderá recorrer em liberdade.
A defesa informou que apresentou embargos infringentes, em razão da existência de voto divergente na turma julgadora, e aguarda novo julgamento.
Condenação reverte absolvição
O Tribunal atendeu a recurso do Ministério Público do Tocantins (MPTO), que sustentou que o depoimento da vítima era coerente, detalhado e compatível com laudos periciais e testemunhais. A acusação também destacou um histórico de condutas semelhantes: em 2015, quando atuava na cidade de Peixe, Marcos Aurélio chegou a ser detido por suspeita de exibir pornografia a um adolescente de 16 anos.
Segundo o MPTO, o ex-padre atraiu o jovem a Palmas com a promessa de ajudá-lo a ingressar no seminário, mantendo-o sob vigilância, privação de liberdade e violência sexual. Para a relatora, os autos demonstram que o réu “se aproveitou da confiança natural depositada na figura religiosa”.
Relembre o caso
O crime ocorreu em agosto de 2019. A denúncia aponta que o jovem, vindo de Pernambuco, foi hospedado no apartamento do então padre sob o pretexto de receber uma carta vocacional. No local, foi submetido ao consumo forçado de bebida alcoólica, abusos sexuais e ameaças.
O rapaz só conseguiu fugir quando Marcos Aurélio esqueceu a chave na porta. Ele chegou à delegacia em estado de choque, e o ex-padre foi preso em flagrante no mesmo dia.
À época, Marcos Aurélio já estava suspenso das funções religiosas desde 2018 e acabou sendo definitivamente desligado do ministério sacerdotal, após denúncias encaminhadas ao Vaticano, conforme consta nos autos.
A promessa de vocação que virou pesadelo
O primeiro contato entre os dois ocorreu pelo Facebook, em um grupo de jovens vocacionados. O diálogo durou cerca de dois anos, período em que Marcos Aurélio afirmava que poderia ajudar o jovem a ingressar no seminário.
Quando o rapaz precisou da carta de recomendação, o ex-padre disse que o documento só poderia ser entregue pessoalmente, em Palmas. Desconfiado, ele chegou a consultar a Diocese de Porto Nacional, que confirmou que Marcos Aurélio era sacerdote na época.
“Eu confiava porque era padre. Ele falava como se estivesse fazendo um favor para minha vocação”, relatou o jovem.
O que seria uma estadia breve transformou-se em quatro dias de abusos e cárcere. Conforme o processo, Marcos Aurélio ofereceu bebida insistentemente até que a vítima apagasse e depois acordasse durante os abusos.
“Ele não me deixava sair do apartamento. Era obrigado a fazer massagens, tocar nele, sempre sob ameaça de morte”, contou.

“Ele destruiu minha fé”, diz vítima
Após denunciar o caso, o jovem afirma que passou a viver com medo constante. “Eu precisei de psicólogo e psiquiatra. Não consigo entrar em um confessionário, não consigo ficar sozinho com um padre”, desabafou.
Segundo ele, houve também exclusão dentro da própria Igreja. “É como se eu fosse o errado. Eu denunciei e parecia que tinha me voltado contra a Igreja”, relatou.
A vítima afirma ainda que Marcos Aurélio tentou descobrir onde ele estava, procurando inclusive padres conhecidos em Pernambuco. “Eu não me sentia seguro em lugar nenhum”, disse.
De acordo com o jovem, o Vaticano recebeu um dossiê completo com seu depoimento e, após processos disciplinares, desligou definitivamente Marcos Aurélio do sacerdócio.
Especialistas citados no processo apontam que a vítima apresenta sinais de trauma complexo, compatíveis com violência prolongada e manipulação psicológica.
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Fonte: AF Noticias
