Filme tocantinense em que militares confessam crimes da ditadura tem estreia nacional
“Araguaia”, do cineasta e escritor tocantinense Hermes Leal, estreia nacionalmente a partir de 26 de junho de 2025, no circuito de arte do país. Com distribuição da Jalapão Filmes e narração do ator Paulo Betti, o documentário reconstrói a desconhecida Guerrilha do Araguaia, com relatos de militares e ex-guerrilheiros, que saíram do anonimato para relatar torturas e mortes, em um dos maiores extermínios de pessoas na história do Brasil.
O longa-metragem, construído a partir do seriado documental para TV “Guerra do Araguaia”, denuncia e reconstitui o massacre de 69 pessoas que faziam parte da Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre 1972 e 1974, na floresta amazônica no sul do Pará. Pela primeira vez, militares assumem seus crimes e descrevem em detalhes como mataram dezenas de pessoas a sangue frio. Neste conflito, houve a maior mobilização de tropas no Brasil desde a Guerra do Paraguai e a Segunda Guerra Mundial; as forças militares utilizaram cerca de sete mil homens para combater e eliminar os guerrilheiros.
“Araguaia” revela a verdade dos fatos, de forma a jogar luz em um dos episódios mais obscuros da História do Brasil, ainda no anonimato. Por isso, relata, cronologicamente, os cinco anos de preparação e os dois anos de combates desta sangrenta guerra, com depoimentos de militares (coronéis e soldados); documentos secretos; relatos inéditos de guerrilheiros, que há mais de 40 anos vivem no anonimato; de camponeses, que foram torturados e mortos tanto quanto os guerrilheiros; e contextualizada por historiadores e jornalistas especializados no assunto.
O filme aborda todo o período dos combates, mostrando fatos inéditos dos dois lados do conflito, dos militares e dos guerrilheiros, e como dezenas de militantes do PC do B, vindos do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Bahia, enfrentaram um Exército bem armado, que precisou de três grandes campanhas para derrotar, decapitar e exterminar guerrilheiros mal armados, mas adaptados à selva. Até hoje, os militares não informaram o destino dos corpos de 49 pessoas desaparecidas no conflito.
Os depoimentos dos sobreviventes, oito guerrilheiros, que estão vivos porque foram presos no início do conflito, ou conseguiram escapar no calor dos combates, antes do massacre final, dão um teor real aos acontecimentos do dia a dia da guerrilha. Suas façanhas foram presenciadas por camponeses, que sofreram nas mãos dos militares tanto quanto os guerrilheiros, e até hoje mantêm suas cicatrizes e a presença dos amigos guerrilheiros em suas vidas.
Filmado nas locações onde os eventos ocorreram, na região entre Marabá (sul do Pará) e Xambioá (norte do Tocantins), “Araguaia” busca, em seu conjunto e seus desdobramentos, compreender o que foi este fato histórico do país. Foram necessários meses de investigação para localizar e convencer guerrilheiros e militares para quebrar seus silêncios e revelar tudo o que foi mantido em segredo até hoje.
Até os dias atuais, nenhum militar havia assumido seus crimes publicamente, nem detalhado suas operações de guerra. Coronel Lício, por exemplo, um dos personagens do filme, pode ser considerado a pessoa que mais matou durante todo o regime militar. O longa revela também um dos maiores centros de tortura do país, senão o maior, por onde passaram mais pessoas torturadas, chamado Casa Azul, que até hoje se mantém de pé na periferia de Marabá como uma memória viva das atrocidades cometidas lá dentro. E encerra com um diagnóstico sobre a busca da verdade, a punição dos responsáveis pelas atrocidades – ainda há 49 corpos desaparecidos –, e a dor de quem perdeu seus amigos e parentes.
A narrativa reconstrói, cronologicamente, os sete anos de conflito, revelando os antecedentes, os treinamentos, as campanhas militares, até iniciar os combates, onde os militares e seus guias descrevem com detalhes como mataram, por exemplo, a guerrilheira Sônia, com oitenta tiros. Este evento é relatado pelos militares que a executaram, sendo que um deles carrega até hoje uma cicatriz do tiro recebido no rosto por Sônia antes de morrer. Relatam também a morte de vários outros guerrilheiros em cenas sangrentas, incluindo a decapitação dos corpos dos mortos, que lembram uma carnificina.
ARAGUAIA
Documentário, 95 min., Brasil, 2025
Direção e Roteiro: Hermes Leal
Narração: Paulo Betti
Produção: HL Filmes
Produção Executiva: Julie Tseng
Fotografia: Caio Brettas
Montagem: Rafael Nantes
Distribuição: Jalapão Filmes
HL FILMES (hlfilmes.com.br)
Produtora de cinema e TV, sediada no Tocantins, com 5 longas-metragens e 6 séries documentais lançados. Atualmente, está produzindo seu primeiro longa de ficção, a comédia “Chá Revelação”, com direção de Pedro Amorim, em parceria com a Rubi Filmes, que será́ lançada no segundo semestre de 2025 pela Imagem Filmes.
No campo documental, a HL Filmes tem uma marca voltada para cultura, diversidade, direitos humanos e questões ambientais. Produziu o longa-metragem “Idade da Água” (2018), do premiado cineasta Orlando Senna, com participação em mais de vinte festivais, no Brasil e no exterior, e premiado como melhor filme no Cine del Água, na Argentina.
Produziu séries importantes como “Pensamento Contemporâneo” (a partir
do programa Café Filosófico/TV Cultura), e “Amazon Fashion”, do tocantinense Nival Correia, sobre moda e sustentabilidade na Amazônia.
JALAPÃO FILMES (jalapaofilmes.com.br)
Distribuidora de conteúdos audiovisuais brasileiros, sediada em Palmas (TO), com objetivo de difundir obras especialmente produzidas nas regiões norte, nordeste e centro-oeste do Brasil, tem a missão de colaborar para a difusão da cultura brasileira através do cinema e de promover e fortalecer a cinematografia brasileira através de seus autores.
Entre suas estratégias de lançamento de produtos, como longas, curtas e séries, inclui a promoção em festivais e lançamentos no circuito comercial, com parceria para exibição em salas de cinema, assim como nos principais canais fechados e nas plataformas de streaming.
Entre seus primeiros produtos estão a série “Amazon Fashion”, de Nival Correia (Fashion TV, Amazon Prime Video, Arte 1), e dois filmes documentais, “Sol da Bahia”, um importante retrato histórico da independência da Bahia, e “Idade da Água”, sobre questões ambientais na Amazônia, ambos do premiado cineasta Orlando Senna.
Em 2023, a distribuidora conquistou um projeto de grande relevância, o longa-metragem “Águas Passadas – O Rio como Testemunha”, de Hélio Brito, de Palmas, vencedor do edital Novos Realizadores do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
Fonte: AF Noticias