Igeprev chegou a aportar R$ 62 milhões em gestora vinculada ao Banco Master, aponta PF
A Polícia Federal identificou um rastro de aportes suspeitos em pelo menos 20 municípios e dez estados, todos direcionados a fundos administrados pela Foco DTVM, instituição diretamente ligada ao Banco Master e agora no centro de um dos maiores escândalos financeiros já registrados em regimes próprios de previdência.
Segundo a PF, os aportes envolveram fundos de servidores em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Tocantins, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Rondônia. O fluxo de recursos chamou atenção pela repetição de um padrão: aportes altos, concentração na mesma administradora e alocação em fundos considerados de “altíssimo risco”.
Igeprev do Tocantins aportou R$ 62 milhões
Entre todos os fundos de previdência citados, o maior aporte identificado foi feito pelo Igeprev-TO, que teria enviado R$ 62 milhões à Foco DTVM. Na sequência aparece o Impremu, fundo dos servidores de Uberlândia (MG), que repassou R$ 47 milhões.
Um relatório divulgado pelo próprio Igeprev-TO, em novembro de 2019, já apontava investimentos na FOCO DVTM, no montante de R$ 55,2 milhões, o correspondente a 1,36% da carteira total do instituto de previdência dos servidores, que somava R$ 4 bilhões em patrimônio na época.
A atual gestão do Igeprev-TO afirmou que não mantém mais investimentos vinculados ao Banco Master, porém, não há informações se o saldo final do aporte foi positivo ou negativo.

Os investimentos dos fundos de previdência na FOCO DVTM, segundo os investigadores, foram direcionados para estruturas financeiras que já apresentavam elevado risco, pouca transparência e retornos baseados em ativos com liquidez duvidosa. Muitos dos fundos ligados à Foco registraram prejuízos logo nos primeiros anos após a entrada dos recursos públicos.
O avanço da investigação levou à deflagração da Operação Fundo Fake, em 2020. Na época, a Justiça Federal chegou a autorizar a prisão do controlador do Banco Master, Daniel Vorcaro, e de outros investigados. Porém, uma decisão posterior suspendeu os mandados antes que a PF pudesse cumpri-los.
Fundos de alto risco, obras paralisadas e prejuízos milionários
O esquema não se limitava a aplicações financeiras complexas. Parte do dinheiro dos servidores foi parar em projetos imobiliários que nunca se concretizaram. Um exemplo emblemático é o investimento do Fundo São Domingos na construção do Hotel Golden Tulip, em Belo Horizonte — empreendimento de Vorcaro e do então Banco Máxima (antigo nome do Master). O projeto consumiu R$ 200 milhões e acabou paralisado, deixando um rastro de perdas.
Outro caso é o do Fundo Monte Carlo, administrado pela Foco, que em 2017 adquiriu R$ 14,5 milhões em debêntures de uma empresa da família Vorcaro, a Milo Investimentos, numa operação que levantou suspeitas de conflito de interesses.
A instabilidade se tornou pública em 2019, quando a Foco divulgou um fato relevante à CVM admitindo um prejuízo de R$ 47 milhões em um de seus fundos — uma perda que acendeu sinais de alerta, mas que, à época, não interrompeu os aportes vindos de fundos municipais e estaduais.
Caso Igeprev x Churrascaria Porcão
O envolvimento do Igeprev-TO com aplicações arriscadas não começou com a Foco DTVM ou com o Banco Master. O caso atual reacende a memória de um dos episódios mais emblemáticos da má gestão dos recursos previdenciários dos servidores tocantinenses: a Churrascaria Porcão.
Entre 2011 e 2012, o instituto investiu em fundos ligados à holding Brazil Foodservice Group (BFG), grupo que administrava a famosa rede de restaurantes — um empreendimento que, à época, já enfrentava fortes sinais de decadência financeira. As aplicações foram parar em fundos que investiam na expansão da marca, na holding e em projetos imobiliários vinculados ao Porcão.
O resultado é conhecido: o grupo teve falência decretada em 2017, acumulou dívidas milionárias, entrou em processos judiciais e deixou uma trilha de prejuízos. Entre os atingidos, estava o Igeprev-TO, que amargou perdas de mais de R$ 300 milhões, sem recuperar o dinheiro dos servidores. À época, o caso virou símbolo de gestão temerária, marcada por pouca transparência e escolhas arriscadas que ignoraram sinais de insolvência do empreendimento.
A repetição do padrão — investimentos em fundos de alto risco, pouca fiscalização, vínculos nebulosos entre administradores e emissores de ativos — aproxima o episódio da Porcão do que agora se investiga no esquema Master/Foco.
O caso Porcão já havia deixado uma lição amarga: o patrimônio de servidores não pode servir de laboratório para apostas corporativas, projetos imobiliários duvidosos ou fundos especulativos.
Fonte: AF Noticias
