Laurez exonera servidores suspeitos de atrapalhar investigações da PF contra Wanderlei
O governador em exercício Laurez Moreira (PSD) exonerou, nesta quarta-feira (12), dois servidores estaduais que figuram entre os alvos da Operação Nêmesis, deflagrada pela Polícia Federal para investigar o vazamento de informações sigilosas e ações coordenadas que teriam o objetivo de interferir nas investigações sobre o desvio de recursos públicos durante a pandemia de Covid-19.
As exonerações foram assinadas pela secretária-chefe da Casa Civil, Irana de Sousa Coelho Aguiar, e publicadas no Diário Oficial do Estado. Foram desligados Alan Rickson Andrade de Araújo e Antoniel Pereira do Nascimento, que tiveram mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF.
O governo informou que as medidas têm caráter administrativo e preventivo, e reforçou que “não será tolerada nenhuma conduta que comprometa investigações oficiais ou o uso do cargo público para fins particulares”.
Alvos e suspeitas
A Operação Nêmesis apura um suposto esquema de vazamento de informações a partir do núcleo político ligado ao governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos). As investigações apontam que aliados e familiares teriam sido avisados previamente sobre ações da PF, o que teria permitido a remoção de documentos, destruição de provas e orientação de testemunhas.
De acordo com o relatório da PF, Alan Rickson, servidor concursado como analista de Tecnologia da Informação, estava lotado como Assessor de Estruturação de Parcerias e Concessões na Secretaria de Participações e Investimentos, com salário de R$ 34 mil. Ele é suspeito de repassar informações sigilosas ao advogado Thomas Jefferson, ex-secretário da pasta, apontado como responsável por alertar o governador sobre a deflagração da Operação Fames-19.
Já Antoniel Pereira, servidor cedido pela Prefeitura de Palmas, atuava na Secretaria Executiva do governador Wanderlei. Segundo o STJ, ele é investigado por incompatibilidade entre renda e patrimônio e por atuar como “pessoa interposta” em transações envolvendo familiares do governador. A PF também identificou indícios de que ele ajudou a esvaziar o imóvel da sogra de Wanderlei antes das diligências policiais.
Repercussão
As exonerações foram publicadas um dia após a deflagração da operação, em meio à tentativa de Laurez Moreira de demonstrar distanciamento político e administrativo do grupo de Wanderlei Barbosa, afastado do cargo desde setembro.
Em nota, o governo estadual afirmou que “atua com transparência, respeita as instituições e reforça o compromisso de colaboração com as autoridades federais”. Já a defesa de Wanderlei Barbosa reiterou que ele recebeu a operação “com serenidade e confiança na Justiça”.

Desdobramentos da operação
O processo que embasa a Operação Nêmesis deixou de tramitar sob sigilo, o que permitiu a divulgação dos fatos apurados e das medidas determinadas pelo ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Os autos revelam que a PF identificou ações deliberadas para frustrar as investigações da Operação Fames-19, que apura desvios de recursos destinados à compra de cestas básicas e à assistência social durante a pandemia. Entre as evidências, estão registros de câmeras de segurança que mostram o advogado Thomas Jefferson visitando a residência de Wanderlei poucas horas antes do cumprimento dos mandados. Após a visita, o então governador deixou o local às pressas com a esposa e a filha.
Além de Thomas Jefferson e dos filhos Léo Barbosa e Rérisson Castro, a PF também incluiu na lista de investigados a deputada estadual Cláudia Lelis (PV) e o ex-secretário da Casa Militar, coronel Wander Araújo.

R$ 52 mil escondido em armário
O relatório policial também revelou que, durante o cumprimento dos mandados de busca, foram encontrados R$ 52 mil em espécie, em maços de notas de R$ 100, escondidos nos fundos de um armário planejado na suíte do casal Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero Campos.
Segundo o documento, a forma como o dinheiro foi ocultado chamou a atenção da autoridade policial, “já que, de ordinário, não haveria a necessidade de ocultar numerário em espécie em um imóvel que conta com vigilância 24 horas”.
Ainda conforme o relatório, as circunstâncias da apreensão indicam que os valores podem ter sido esquecidos ou deliberadamente abandonados, em razão da pressa do casal em se evadir do local após o suposto vazamento de informações sobre a operação.

Mãe e filha da primeira-dama também foram alvo
Também estão entre os investigados Joana Darc Sotero Campos e Yasmin Sotero Lustosa, mãe e filha da primeira-dama afastada Karynne Sotero Campos, além da própria Karynne. Durante as buscas, realizadas em Palmas e Santa Tereza do Tocantins, os agentes recolheram documentos, aparelhos eletrônicos e veículos.
Segundo a defesa, Joana Darc, de mais de 75 anos, passou mal e precisou ser hospitalizada durante o cumprimento dos mandados. Em nota, Karynne Sotero afirmou que “repudia as acusações infundadas de tentativa de embaraço às investigações” e declarou ter “plena disposição para colaborar com a Justiça”.
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Fonte: AF Noticias
