O racismo e o peso de uma herança vergonhosa
O racismo é qualquer pensamento ou atitude que separa as raças humanas, a partir do momento quando uma se considera superior a outra.
Quando falamos em racismo, logo pensamos nos negros, o que é justificado via o contexto doloroso vivido pelos seus antepassados.
Historicamente, os negros são os que sofrem mais com o racismo, principalmente pelas suas origens e por situações de vulnerabilidade socioeconômica.
Atualmente, a população negra compõe mais da metade dos brasileiros, 53%, o que poderia significar um equilíbrio na distribuição dos índices entre negros e brancos, mas, na prática, isto está longe de acontecer. Vivemos uma situação de extremos!
A educação pode ser uma excelente ferramenta no rompimento destas diferenças, já que as chances de um negro ser analfabeto é cinco vezes maior que um indivíduo de cor branca; Outro extremo destas diferenças berrantes, é que apenas uma a cada quatro pessoas com ensino superior no Brasil é negra. Isto mesmo!
O impacto desta cruel realidade apenas aumenta quando pensamos no ambiente fora da sala de aula, onde 70% das pessoas que vivem na situação de extrema pobreza no nosso país são negras. Pessoas com peles mais claras representam 80% dos brasileiros mais ricos, tornando ainda mais latente o fato de que todas estas distorções refletem diretamente na qualidade de vida das pessoas de cor negra.
O mesmo vale para a internet, o acesso à informação, onde a maioria dos negros não têm acesso a esta tecnologia.Também, 39,3% dos negros que vivem em áreas urbanas não têm acesso a saneamentos básicos como o esgoto, e alarmantemente, 70% das pessoas que dependem do SUS, são negras.
A cor da pele também pode determinar o seu tempo de vida. No Brasil, em 10 anos, os homicídios de mulheres brancas caíram de 44% para 32,5%, enquanto os homicídios de mulheres negras aumentaram de 48% para 62%. E a morte não é só um fatídico dado exclusivo do grupo feminino, pois, se somamos os gêneros, a cada doze minutos uma pessoa negra é assassinada no Brasil. Também, são os negros que mais morrem em operações policias, onde 7 a cada 10 mortos em ações policiais são de negros, como refletem os números dos Estados de RJ e SP.
O estigma de sermos o último país das Américas a abolir a escravidão, infelizmente é mais forte que o discurso oficial da “Democracia Racial”. Foram 358 anos de escravidão, mas os 128 anos sem ela não conseguiram apagar essas marcas.
Negros ainda são “prato cheio” para palavras e brincadeiras pejorativas, e se não fosse o suficiente, ainda vivemos numa sociedade que não consegue ver ainda um negro no espaço de poder.
Proibido por lei, o racismo no Brasil segue dissimulado e se abriga fortemente no consciente, subconsciente e nos domicílios da nossa população.
Além disso, algumas pessoas valorizam tanto a superioridade de raças que chegam até a acreditar, em muitos casos, na sua purificação.
Em 1822, houve no Brasil um projeto de branqueamento da nossa população. No período do império, com a vinda em massa de europeus, autores da época e influenciadores do darwinismo social, acreditava-se que em três gerações haveria no nosso país uma maioria absoluta de brancos, onde os genes africanos e indígenas se diluiriam entre uma minoria mestiça. Na época, a mistura de raças era vista como uma desgraça, o mesmo argumento que foi justificado para a prática da escravidão e do nazismo.
Pode ser difícil para comunidade negra mudar isso por dentro, porque ela é timidamente representada nas esferas de poder do nosso país, e esta defasagem não ocorre apenas nos dias de hoje, já que historicamente o Brasil sempre foi um mau exemplo em representatividade racial.
Sim, o Brasil é um país racista, e quem endossa esta verdade é a própria a ONU. Os negros vivenciam discriminação racial e enfrentam severas desvantagem em relação a outros brasileiros.
Esses problemas envolvem um esforço geral de políticas, e a aplicação de ações públicas, certamente proporcionarão um espaço para o debate de toda sociedade brasileira, até chegarmos à conclusão que a nossa vida não pode ser medida pela nossa melanina.
O racismo tem cura, mas se faz necessário o engajamento de todos!