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‘Me bateu a necessidade de estudar’, diz idoso que aos 65 anos entrou pela primeira vez em uma sala de aula

Aprender a ler e escrever é um direito de todos os cidadãos. Mas, por circunstâncias de uma vida com poucos privilégios, nem todos conseguem aprender o básico para desempenhar as funções do dia a dia. O aposentado Jeremias Bezerra infelizmente não aprendeu a ler e escrever quando criança. Só conseguiu entrar em uma sala de aula aos 65 anos.

“Agora eu cheguei nessa idade e me bateu a necessidade de estudar. Como agora não tem todo tempo, mas dá para estudar. Agora tô começando a estudar. Porque eu olhava para uma letra numa parede dessa, num quadro, e para mim era igual estar olhando ela total, ela pintada, com letra ou sem letra era uma coisa só”, disse o aposentado.

Por ter começado a estudar recentemente, seu Jeremias faz parte de uma novidade sobre dados relacionados ao analfabetismo. De acordo com o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), houve uma redução de 1,7% de analfabetos no Tocantins. Entre os anos de 2019 e 2022, pelo menos quinze mil pessoas apreenderam a ler e escrever no estado.

“O Tocantins tem avançado de maneira sistemática e em todos os campos à respeito da educação e em todos os níveis de governo. Propiciando uma melhor condição de vida para a população”, disse o superintendente o IBGE no Tocantins, Paulo Ricardo Amaral.

Nunca é tarde para ter novos aprendizados. O professor João Martins, que ensina o aposentado, contou que muito alunos como o seu Jeremias relataram que depois que aprenderam a ler e escrever, deixaram a escuridão’ em que viviam. “Vários alunos [disseram] ‘professor, eu não enxergava o mundo, professor, eu era cego. E hoje eu enxergo o mundo, eu sei ler’. Então isso é gratificante demais para a gente”, contou, sobre as experiências em sala de aula.

Depois de conseguir passar para um pedaço de papel as primeiras letras e entender o que estava escrito, seu Jeremias já tem uma meta com os novos conhecimentos: ler a Bíblia inteira.

“Tudo eu leio. Devagar, porque eu tenho que soletrar. Na Bíblia é um pouco mais complicado, umas coisas eu digo, e outras não. Mas já está bem mais fácil, porque eu não sabia nada. Eu comecei do A”, disse o idoso.

 

Alfabetização infantil

 

Como ler e escrever faz parte da maioria das ações cotidianas, quem tem a oportunidade de começar os estudos no tempo certo terá facilidades. Mas o ato de alfabetizar tem diversas técnicas, principalmente quando se trata de crianças, segundo a professora do ensino fundamental, Flaviane Siqueira.

“Eu não posso deixar somente caderno e livro. Então nós trabalhamos com massinha, trabalhamos com papéis, trabalhamos com jogos, materiais que a gente pega na natureza. Tudo isso a gente produz e faz nossas atividades. Porque alfabetização não é só você ler e escrever. Nós professores temos que colocar nossos alunos para aprender o que é o objeto”, explicou.

No embaralhado de letras, a aluna Elisa Lopes, de apenas 6 aninhos, já sabe juntar vogais e consoantes e formar palavras, com ajuda da professora Flaviane. Em entrevista, a pequena contou que a palavra que mais gostou de formar é ‘bola’ e mostrou ainda as letras que formam seu nome.

Professora Flaviane Silveira em classe do ensino fundamental — Foto: TV Anhanguera/ Reprodução

Professora Flaviane Silveira em classe do ensino fundamental — Foto: TV Anhanguera/ Reprodução

Incentivo na infância

 

Para o professor e especialista em Educação Lauro José Martins, o investimento e incentivo na educação dos filhos, além das políticas públicas voltadas ao setor há dez anos podem ter levado a esse resultado do levantamento nacional.

“O estado do Tocantins está colhendo os frutos das políticas educacionais de, no mínimo, uma década atrás. Esses dados do IBGE são para jovens acima de 15 anos. Então significa que as pessoas ingressaram no ensino escolar por volta de 2013. Então nós temos que entender como que estava o estado e o país, os investimentos em educação e como é que as famílias estavam nas suas condições financeiras por volta de 2013, que tiveram as condições mínimas de ingressar com suas crianças naquela época, no sistema escolar”, explicou.

Pelo menos 15 mil pessoas foram alfabetizadas no estado nos últimos três anos — Foto: TV Anhanguera/Reprodução

Pelo menos 15 mil pessoas foram alfabetizadas no estado nos últimos três anos — Foto: TV Anhanguera/Reprodução

 

Fonte: G1 Tocantins