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Agência de Águas faz cálculos e simula diluição de produtos químicos que caíram no rio Tocantins

Em virtude do desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entre Aguiarnópolis/TO e Estreito/MA, no dia 22 de dezembro, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) recebeu informações de que caminhões transportando pesticidas e outros compostos químicos caíram no rio Tocantins.

Em conjunto com outros órgãos de saúde e meio ambiente nas esferas federal e dos estados do Maranhão e Tocantins, vem realizando avaliações e promovendo as análises necessárias com foco especialmente no abastecimento a jusante (rio abaixo) do ponto do acidente.

Defensivos Agrícolas

Levando em consideração as informações das notas fiscais das cargas transportadas pelos caminhões que caíram no rio Tocantins e das bulas dos pesticidas, que contêm as concentrações dos princípios ativos de cada fórmula, foram levantados os quantitativos máximos dos princípios ativos dos pesticidas potencialmente lançados na coluna d’água do rio Tocantins, conforme tabela abaixo.

Pesticida Concentração (g/L) Volume total nas cargas (L) Peso do princípio ativo em quilos
Carnadine (acetamiprido) 200 500 100
Pique (picloram) 388 2.700 1.048
Tractor (picloram) 103 22.080 2.274
Tractor (2,4D) 406 8.964
TOTAL 25.280 12.386

Cabe destacar que não há, ainda, informação sobre o rompimento efetivo das embalagens dos defensivos agrícolas, que, em função do acondicionamento da carga, podem ter permanecido intactas.

Em seguida, foram levantadas as informações de vazão do rio Tocantins em Estreito (MA), que corresponde a 1.000 m3/s, bem como o Valor Máximo Permitido (VMP) desses princípios ativos na água a ser distribuída para a população, de acordo com a Portaria de Potabilidade do Ministério da Saúde (Portaria GM/MS 888/2021). As concentrações da Portaria estão em µg/L o que equivale a gramas por metro cúbicos (g/m3).

Foi então calculado o tempo necessário para que ocorra a diluição dos princípios ativos dos pesticidas até que atinjam os VMPs da Portaria de Potabilidade, conforme tabela abaixo.

Princípio ativo Concentração Portaria MS (g/m3) Volume em m3 Tempo necessário em segundos
2,4D 30 298.816 299
Picloram 60 55.364 55

Informa-se que a Portaria de Potabilidade não estabelece limites quanto ao princípio ativo acetomiprido.

Das informações da tabela acima, depreende-se que se todo o Picloram potencialmente presente fosse disponibilizado na coluna d’água de forma instantânea no local do acidente, ele se diluiria em menos de um minuto e ficaria abaixo do VMP da Portaria de Potabilidade nesse tempo.

Da mesma forma, se todo o 2,4D potencialmente presente fosse disponibilizado na coluna d’água no local do acidente ele se diluiria em 5 minutos e ficaria abaixo do VMP da Portaria de Potabilidade nesse tempo.

Não foi avaliada a decomposição dessas moléculas, por não haver informações sobre tal, mas somente sua diluição. Essa simulação de diluição permite concluir que não há risco significativo de descumprimento dos parâmetros de potabilidade determinados pelo Ministério da Saúde para o abastecimento público de água.

Ácido Sulfúrico

Em relação ao ácido sulfúrico, H2SO4, existem duas questões importantes a serem consideradas. A primeira é o pH, que indica sua acidez. O ácido sulfúrico é um ácido forte, ou seja, com alto grau de dissociação na água o que provoca uma redução de pH.

Considerando a carga de 76.000kg de H2SO4, com peso molecular de 98,078 g/mol, temos 774.893,45 mol de H2SO4, ou 1.549.786,9 mol de Hidrogênio potencialmente ionizável. Tendo em vista a possibilidade de redução do pH, a depender das eventuais condições de liberação do poluente, é fundamental que seja feito um acompanhamento por parte do Poder Público, na água bruta, e pelas concessionárias de abastecimento público que captam no rio Tocantins, na região a jusante do acidente, para a necessidade de eventuais ajustes em seu processo de tratamento de água para abastecimento.

Segundo informações da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (SEMA/MA), em 24 de dezembro, até o momento não se observou alteração do pH no trecho supracitado do rio Tocantins.

A segunda questão é a liberação de calor durante a diluição do ácido sulfúrico na água. O calor de diluição do ácido sulfúrico é de 2.225,84 Kcal/Kg. O calor específico da água é de 1 Kcal/KgoC, ou seja, considerando a densidade da água de 1000 Kg/m3, seria necessário 1000 Kcal para elevar em 1oC um volume de 1m3 de água, que equivale a 1.000 litros.

Considerando todo o ácido sulfúrico armazenado na carreta que caiu no rio Tocantins e seu calor de diluição (169.163.636,36 Kcal), esse calor potencialmente elevaria um volume aproximado de 170.000 m3 em 1°C

Considerando a vazão de 900 m3/s, seriam necessários aproximadamente 3 minutos para absorção de todo o calor liberado pela dissolução do ácido sulfúrico com o acréscimo de 1°C na temperatura da água

Monitoramento e análises de qualidade da água

Em articulação com a SEMA/MA, em 24 de dezembro serão determinados parâmetros básicos de qualidade da água e coletadas amostras para análises laboratoriais dos principais parâmetros de interesse dos operadores de sistemas públicos de abastecimento de água, em especial dos princípios ativos dos pesticidas potencialmente lançados na coluna d’água do rio Tocantins.

As amostras serão coletadas em cinco pontos no trecho de aproximadamente 135 km desde o reservatório da Usina Hidrelétrica Estreito até o município de Imperatriz (MA). As análises serão realizadas com apoio da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e da EMBRAPA Meio Ambiente. Amostras também foram coletadas e enviadas para análise pela Agência Tocantinense de Saneamento (ATS) e pela empresa Engie, que é responsável pela operação de usinas hidrelétricas no rio Tocantins. Adicionalmente técnicos do Serviço Geológico do Brasil (SGB) foram encaminhados à região para medição de vazão e determinação de parâmetros básicos de qualidade da água.

Nesta quinta-feira, 26 de dezembro, a partir das 16h, a ANA realizará a Reunião da Sala de Crise para Acompanhamento dos Impactos sobre os Usos Múltiplos da Água Decorrentes do Desabamento da Ponte sobre o Rio Tocantins.

Além da Agência, participarão do encontro representantes das seguintes instituições: Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS); Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC/MIDR); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); SGB; Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN); Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT); MMA; Ministério da Saúde; SEMA/MA; Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Tocantins (SEMARH/TO); Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMA/PA); companhias de abastecimento de água ATS, BRK e Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (CAEMA); dentre outros atores.

Fonte: AF Noticias